Alterar o idioma do Blog

sexta-feira 15 2013

A voz e a vez dos excluídos

Um texto de autoria do Prefeito de Marabá João Salame (PPS), pinçado do Blog do Beto Faro que reflete bem o "espírito" e o pensamento da Equipe Folha de Tucuruí na defesa dos mais fracos, dos menos favorecidos e da sociedade organizada.
     
Este é a verdadeira e não deturpada forma de pensar de um partido progressista.
    
A voz e a vez dos excluídos - Por João Salame
     
Muitos críticos podem dizer que o PT se transformou e, em alguns casos, para pior. Que se rendeu a velhas práticas da política. Há muito de verdade nisso. 
   
Mas o partido não consegue ser superado por outras organizações de esquerda porque mantém ainda sólido vínculo com a maioria da população deserdada das políticas públicas. 
   
Não gosto de personalizar as coisas, aposto muito nas ações coletivas, mas essa façanha se deve muito a intuição política de uma personalidade: Lula. Ele mesmo. Tão defenestrado por seus adversários nos últimos dias. Mas cada vez mais amado pelas parcelas menos favorecidas da sociedade. 
   
No início da década de 80, Lula entendeu que a velha forma de representação política da esquerda, representada pelo partido comunista, havia falido. Que a concepção autoritária de partido não dava mais conta dos anseios da sociedade. Identificou que era hora de colocar as grandes massas como agente político e comandou a organização do setor de vanguarda do operariado, através do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, berço do sindicalismo combativo. 
   
Viu mais longe: enxergou a necessidade de estimular a participação política dos deserdados, dos que não tinham vaga nos partidos para se candidatar e lançou-se na organização do Partido dos Trabalhadores. Estimulou ainda instrumentos como o orçamento participativo, formação de conselhos e outras formas de representação popular. Em pouco tempo, nas Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional começaram a aparecer trabalhadores rurais, operários, domésticas, semianalfabetos, negros, homossexuais e outros segmentos discriminados da sociedade. 
   
Lula entendeu na década de 80 que a vez era do movimento social organizado. O PT “bombou”. De uns tempos para cá ele percebeu que é a vez dos excluídos. Consolidou o bolsa-família como política compensatória para os segmentos mais fragilizados e desorganizados da sociedade e empreendeu várias outras políticas para esses setores. 
   
Na última quinta-feira participei do 14º. Encontro Nacional do Morhan – o movimento que combate o preconceito e luta em defesa dos hansenianos. Tive a honra de ser um dos 35 personagens homenageados pelo movimento. Lula estava lá. No seu discurso foi na ferida: “os empresários, os professores, o pessoal da cultura, os sindicatos, conseguem muito do que querem junto ao governo. E os excluídos? Tudo pra eles é difícil. Nós temos que inverter essa lógica e mostrar que pra eles tudo é possível”, falou. Foi ovacionado. Foi emocionante. 
   
Enquanto boa parte da esquerda, inclusive a que se diz revolucionária, continua presa aos velhos clichês, continua aprisionada pelo corporativismo de boa parte dos líderes sindicais e da chamada sociedade civil organizada, Lula percebeu, ainda que intuitivamente, que o Estado precisa distribuir mais seus recursos para os deserdados. 
   
Que todo o dinheiro não pode ser gasto apenas com os setores mais organizados da sociedade. Por isso continua amado pelo seu povo. Na sua sensibilidade está a possibilidade do PT se reciclar novamente, ainda que o partido possa fazer essa transformação sem ter a compreensão teórica da necessidade real dessa mudança. 
   
Eu, em crise com o meu partido, que sempre apostei no coletivo, confesso que me sinto um pouco lulista. Ele está sendo uma voz quase solitária em defesa dos excluídos. A cada dia eles se multiplicam, com a internet se comunicam e em pouco tempo vão tornar pó as cúpulas partidárias, as estruturas sindicais e a atual forma de representação política, que completa duzentos anos sem se dar conta que o mundo mudou. (*) João Salame é jornalista e prefeito de Marabá
    

quinta-feira 14 2013

Candidato a Presidência do Sindicato dos Servidores Municipais de Tucuruí tem cargo de confiança do prefeito Sancler

Veja o Holerite do mês de abril de 2012 do Raimundo Lopes (Bam bam), candidato à Presidência do SINSMUT. 
    
Notem que o Sr. Raimundo Lopes recebe, ou recebeu gratificação de insalubridade mesmo estando à disposição do SINSMUT e recebeu (ou ainda recebe), gratificação no valor de R$ 600,00. 
   
Como podemos ver o Raimundo Lopes, vulgo Bam bam, é pessoa de confiança do prefeito, por isso ele o quer na presidência do SINSMUT a qualquer custo.
   
   

quarta-feira 13 2013

ASERT perde na justiça processo contra a PMT.


A Juíza concluiu que os documentos apresentados pela Associação dos Servidores Municipais não comprovam a dívida. Leiam a cópia da sentença que estamos publicando, para compreenderem melhor a decisão.
     
Agora vamos dar o nosso pitaco: Em primeiro lugar devemos esclarecer que o que estamos expondo é a nossa opinião e não um parecer, até porque não temos conhecimento jurídico suficiente para formularmos um parecer técnico sobre o tema.
    
Bom, de acordo com os documentos apresentados e descritos na sentença, concordamos que cópias de planilhas e holerites avulsos não provam a dívida alegada, que seria de mais de um milhão. 
    
Os representantes dos Servidores Municipais, tanto de Tucuruí quanto de qualquer outro município, tem que partir do princípio de que o Prefeito está no poder, portanto ele é mais “forte”, dispõe muito mais recursos (inclusive controla o legislativo) do que os funcionários municipais e que não basta apenas “ter o direito e a Lei do seu lado”, é preciso saber exercer e reivindicar este direito DA FORMA CORRETA, mais que isso, em se tratando de uma luta desigual entre o mais forte e o mais fraco, o mais fraco mesmo tendo o direito a seu favor, tem OBRIGATORIAMENTE o dever de agir de forma pensada e com ESTRATÉGIA. 
      
Caros amigos, sem estratégia em uma luta deste tipo não existe a mínima chance de vitória, agir por paixão e por impulso, nem pensar.
    
A nosso ver a estratégia que deveria ter sido adotada seria outra. Vamos partir do princípio de que realmente a Prefeitura não deve nada para a ASERT, a prefeitura deve AO SERVIDOR este sim deve para a ASERT, ou melhor para o comércio e hospitais, A ASERT simplesmente repassa os descontos, é uma intermediária entre o servidor, o comércio e hospitais.  
   
Portanto, a nosso ver, a dívida da PMT é para com o servidor, pois descontou e não repassou, portanto o prefeito se apropriou indevida e premeditadamente de parte do salário do servidor, e isso é crime, é apropriação indébita e improbidade administrativa.
    
A ação correta, a nosso ver,  seria uma queixa crime  contra o prefeito, os próprios integrantes da direção da ASERT como pessoa física, poderiam ter acusado o prefeito por se apropriar indevidamente de parte de seus salários e por apropriação indébita, ao descontar e não repassar este desconto a quem de direito, inclusive poderia acusar o prefeito ainda por danos morais, pela situação vexatória do servidor perante o comércio local, pela perda do crédito, etc. 
   
No caso, a ASERT deveria ter dado Assessoria Jurídica ao servidor para que o Servidor acionasse a justiça, basta que a justiça aceite a denúncia e que apenas um servidor ganhe na justiça para que a casa caia para o prefeito e ele fique em uma situação muito difícil.
    
Não se briga com o poder sem cartas na manga, ou motivado por paixão, revolta ou qualquer emoção forte, para enfrentar alguém mais forte tem de ser frio e calculista, e o mais importante, vamos repetir: ESTRATÉGIA, ESTRATÉGIA, ESTRATÉGIA, ESTRATÉGIA E ESTRATÉGIA.
    
Davi venceu Golias que era um guerreiro muito mais forte, não só porque estava com a razão e tinha Deus do seu lado, mas porque usou de estratégia, utilizou os meios adequados (a funda), usou de técnica (pontaria e familiaridade com a arma), e olha que a situação era extrema, já que a sua vida e o destino do seu país estava em jogo, muitos em seu lugar teria se borrado todo na frente do “gigante” e teria sido despedaçado.
     
Estou dizendo isso como um alerta e ao mesmo tempo como incentivo, de que é perfeitamente possível o mais fraco vencer o mais forte, é difícil, mas é perfeitamente possível. Mas tem que ter coragem, agir com inteligência, persistência, sangue frio, e não canso de repetir “COM ESTRATÉGIA”.
    
O “outro lado” não é composto por demônios ou super-homens, o “outro lado” é composto por pessoas falíveis, que tem pontos fortes mas que também tem muitos pontos fracos. Quanto mais poder, mais inimigos, mais preocupações, mais responsabilidades e mais trairagens.
    
Se o funcionário perder, ele pode tentar de novo, e se souber fazer, se for esperto, pode recuperar tudo o que perdeu e mais alguma coisa. Por outro lado, se o prefeito perder, conforme o caso, ele pode perder o cargo, o sossego e até mesmo a liberdade, portanto o prefeito tem muito mais motivos para se preocupar que você. Porque você acha que ele se desespera, joga tudo o que tem e usa de todas as armas para vencer tudo é quanto eleição, por menos importante que seja? 
    
É por medo que os chefes na PMT estão se humilhando perante seus subordinados pedindo voto para a chapa do prefeito. O prefeito tem medo de que a sociedade se organize porque ele sabe o que isso significa.
     
Pense nisso. Pense que ninguém pode fazer nada por você, nem mesmo Deus fará nada por você se você não ajudar a si mesmo e agir com a cabeça.
    
A justiça não protege os que dormem e Deus não protege os covardes, os acomodados e os preguiçosos.
    
Veja a cópia da sentença.
     
    

terça-feira 12 2013

Vereador "valente" diz que o Projeto do IPASET será aprovado queiram ou não os servidores do município

Vereadores discutem com servidores a criação do IPASET
    
Segundo o representante do Prefeito na reunião da Câmara Municipal de Tucuruí a explicação para a criação do IPASET (Funprev III) foi que a Prefeitura de Tucuruí deve mais ou menos 150 milhões ao INSS e como a dívida já fora negociada e renegociada antes, a solução é criar o Fundo de Previdência Municipal dividindo a dívida com o INSS em vinte anos. 

   
Enquanto isso, com a criação do IPASET a PMT passa a contribuir com 12% em vez dos 22% atuais, ou seja, a folha de pagamento terá uma redução de 10%, isso SE o prefeito fizer os repasses, o que nós não acreditamos que ele faça, já que ele atrasa os repasses do Caixa Econômica, não faz os repasses ao Fundo Municipal do Meio Ambiente, ao SINSMUT e para a ASERT, porque pelas barbas do profeta, faria os repasses do IPASET? 
   
Poderia ser criada alguma cláusula de garantia na Lei Municipal, de que os repasses sejam feitos e de que o Prefeito não utilizará o dinheiro da previdência municipal indevidamente, e nem vai extinguir o órgão, mas Lei Municipal em Tucuruí pode ser criada e alterada quando o prefeito bem entender, já que o Legislativo é submisso e defende os interesses do prefeito acima de qualquer outro, ainda mais quando está em jogo valores estratosféricos. 
   
Se Lei Federal e Estadual não é cumprida pela administração Municipal (Nepotismo, Concurso... Etc.) imaginem Leis municipais que podem ser modificadas quando o prefeito bem entender? Teve até um “vereador” que abaixa a cabeça para o prefeito, mas que é muito corajoso com quem não pode se defender, que disse que o projeto será aprovado quer os servidores municipais queiram ou não. 
    
Como se isso fosse novidade e ninguém soubesse, e como se vereador em Tucuruí se importasse com os funcionários municipais e com o interesse público. Que o projeto será aprovado e que os vereadores não estão nem ai para os funcionários municipais e para o povo, nós do Folha já sabemos e estamos dizendo há muito tempo. 
   
Mas se a população e os servidores municipais não estão contentes ainda com toda esta lambança, pode fazer piorar ainda mais, é só votar nos candidatos do prefeito e dos vereadores no ano que vem, enquanto isso terminem o "serviço" e acabem de esculhambar tudo de vez entregando o SINSMUT e a ASERT para o prefeito. 
   
No final, os servidores municipais serão prejudicados em suas aposentadorias e a população como um todo também será prejudicada (como foi com o FUNPREV), pois o município é que acaba se endividando ainda mais e quem paga a conta é o povo. 
   
Outra questão é se por acaso não existe algum entrave jurídico para a criação da previdência municipal, já que Tucuruí já havia criado anteriormente um fundo municipal de previdência e o mesmo faliu, foi extinto, e ninguém sabe o que foi feito e onde foi parar o dinheiro da Previdência Municipal (FUNPREV). Com isso Tucuruí ficou mais endividada e os funcionários municipais encontram hoje grandes dificuldades para se aposentarem. 
    
No entanto a população tem que se conscientizar de que tudo isso isso não é nada mais e nada menos que a consequência das últimas eleições municipais, em que o atual prefeito e os atuais vereadores foram eleitos pela maioria do povo de Tucuruí, inclusive por uma grande parte do funcionalismo municipal que já está pagando o preço pelo erro. 
   
Isso só demonstra mais uma vez que o voto tem consequências, e o povo de Tucuruí que se prepare, porque isso é só o começo. Com este prefeito e estes vereadores, vem muito mais bomba por ai.
    

domingo 10 2013

'Tribos perigosas': as histórias de guerra de um antropólogo

Livro analisa a tribo dos ianomâmis e suas estruturas sociais, em um período em que eles ainda não haviam sofrido a influência do homem branco. 
   
The New York Times | 10/03/2013 08:00:21. 
   
Noble Savages via The New York Times. 
    
Membros de tribo ianomâmi dançam em ritual.
Livro analisa trabalho de antropólogo com tribo amazônica.
Como eram de fato os nossos primeiros ancestrais quando deixaram de ser bandos de caçadores-coletores e se tornaram sociedades mais complexas e assentadas? O antropólogo Napoleon A. Chagnon, após 35 anos pesquisando uma população notável – os ianomâmis que habitam a Venezuela e o Brasil – pode ter sido a pessoa que chegou mais perto de responder essa pergunta. 
   
O novo livro de Chagnon, "Noble Savages" ("Bons selvagens", em tradução livre), inclui três temas. Primeiro, é uma história de aventura muito bem escrita a respeito de como o antropólogo aprendeu a sobreviver em uma cultura e um ambiente completamente diferentes dos seus, entre aldeias tomadas por um estado de guerra perpétua e onças que seguiam suas trilhas pela selva. Em segundo lugar, descreve como o autor foi compreendendo gradualmente o funcionamento da sociedade ianomâmi, uma questão de grande relevância para a evolução humana recente. Terceiro, narra as agruras que Chagnon vivenciou nas mãos da Associação Americana de Antropologia. 
   
A maioria das tribos estudadas por antropólogos perderam muito de sua cultura e estrutura sob as influências ocidentais. Na década de 1960, quando Chagnon visitou os ianomâmis pela primeira vez, deparou-se com um povo quase que em absoluto estado natural. Suas guerras não tinham sido suprimidas por potências coloniais. Eles estavam isolados havia tanto tempo, longe até mesmo de outras tribos na Amazônia, que sua língua demonstrava ter pouca ou nenhuma relação com qualquer outra. Cerca de 25 mil pessoas que viviam em 250 aldeias, os ianomâmis cultivavam banana, caçavam animais silvestres e invadiam os territórios uns dos outros incessantemente. 
   
Graduado em Engenharia antes de se dedicar à Antropologia, Chagnon estava interessado na mecânica do trabalho dos ianomâmis. Ele percebeu que o parentesco era o que dava coesão às sociedades, o que o motivou a começar a montar a complicada genealogia dos ianomâmis. Isso levou muitos anos, em parte porque mencionar os nomes dos mortos, para os ianomâmis, é um tabu. Quando concluído, o trabalho revelou muitas características importantes da sociedade ianomâmi. Uma das descobertas de Chagnon foi de que os guerreiros que matavam um homem no campo de batalha geravam três vezes mais filhos que os demais. 
   
A sua pesquisa foi publicada no periódico Science em 1988, desencadeando uma tempestade entre os antropólogos que acreditavam que a paz, e não a guerra, era o estado natural da existência humana. As descrições de Chagnon a respeito da guerra ianomâmi tinham sido ruins a ponto de ele parecer estar dizendo que a agressão era recompensada e poderia ser herdada. 
   
Um tema recorrente em seu livro é o choque entre suas descobertas empíricas e a ideologia de seus colegas antropólogos. O viés geral da teoria antropológica é fortemente inspirado no marxismo, escreve Chagnon. Seus colegas insistiam que os ianomâmis estavam lutando por bens materiais, enquanto que Chagnon acreditava que as lutas tinham a ver com algo muito mais básico – o acesso às mulheres jovens com idade para se casar. 
   
Para Chagnon, a evolução e a sociobiologia, e não a teoria marxista, são maneiras mais promissoras de compreender as sociedades humanas. Sob esse ponto de vista, escreve ele, faz todo o sentido que a guerra entre os ianomâmis – e provavelmente entre todas as sociedades humanas em diferentes fases de sua história – tenha propósitos reprodutivos. 
   
Os homens formam coalizões para ter acesso às mulheres. Como alguns homens serão capazes de ter muitas mulheres, outros devem compartilhar ou ficar sem esposa alguma, criando uma grande escassez de mulheres. É por isso que as aldeias ianomâmis invadem constantemente umas as outras. 
   
As incursões em busca de mulheres criam um problema mais complexo: o da manutenção da coesão social necessária para sustentar a guerra. Uma das principais causas da divisão de uma aldeia é a luta por mulheres. No entanto, uma aldeia de menor porte é menos capaz de se defender contra as vizinhas maiores. A estratégia mais eficiente para manter uma aldeia grande e coesa por meio de ligações de parentesco é o casamento entre primos cruzados de dois grupos de linhagem masculina. Chagnon constatou que esse é de fato o sistema geral praticado pelos ianomâmis. 
   
Depois de deixar o xamã Dedeheiwa, um de seus informantes, exausto com uma série de perguntas sobre o motivo da aldeia se separar sucessivamente em pequenos grupos hostis, Chagnon se deparou com a sua ira: "Não faça essas perguntas estúpidas! Mulheres! Mulheres! Mulheres! Mulheres! Mulheres!". 
   
Durante seus anos de trabalho entre os ianomâmis, Chagnon entrou em discórdia com os salesianos, o grupo missionário católico que constituiu a principal influência ocidental na região ianomâmi. Em vez de viajar de canoa e a pé para as aldeias ianomâmi remotas, os salesianos preferiram induzir os ianomâmi a se estabelecerem perto dos locais de sua missão, mesmo que isso os expusesse a doenças ocidentais às quais tinham pouca ou nenhuma imunidade, escreve Chagnon. Ele também se opôs ao fato de os salesianos terem dado armas aos ianomâmis, que os membros da tribo usavam para matar uns aos outros, bem como para a caça. 
  
Os salesianos e os inimigos acadêmicos de Chagnon viram a oportunidade de unir forças contra ele quando o escritor Patrick Tierney publicou o livro "Trevas no Eldorado" (2000), acusando Chagnon e o conhecido médico geneticista James V. Neel de terem deliberadamente provocado uma epidemia de sarampo entre os ianomâmis em 1968. 
   
Com base nessas acusações, dois dos acadêmicos que criticavam Chagnon o denunciaram para a Associação Americana de Antropologia, comparando-o ao médico nazista Josef Mengele. A associação nomeou uma comissão que, embora tenha absolvido Chagnon da acusação da epidemia de sarampo, no entanto, reagiu de maneira hostil, acusando-o de ir contra os interesses dos ianomâmis. 
   
Em 2005, os membros da associação votaram por uma margem de dois para um a favor da rescisão do relatório da comissão. Mas o estrago já estava feito. Os adversários de Chagnon no Brasil conseguiram impedir outras viagens do antropólogo à região. Seus últimos anos de pesquisa sobre os ianomâmis foram interrompidos. 
  
Em 2010, a associação votou a favor de retirar a palavra "ciência" do planejamento de suas missões, passando a focar na "compreensão do público". Seu desgosto pela ciência e seu ataque a Chagnon são agora uma parte indelével de seu histórico. 
    
Por outro lado, Chagnon tem como legado o fato de ter sido capaz de obter um profundo conhecimento a respeito da última tribo que ainda vivia em estado natural no mundo. "Noble Savages" é uma prova notável do esforço de um engenheiro que passou 35 anos tentando desvendar o funcionamento complexo de uma sociedade humana intocada.
    
Sobre o livro: "Noble Savages – My Life Among Two Dangerous Tribes – the Yanomamo and the Anthropologists" ("Bons selvagens – minha vida entre duas tribos perigosas – os ianomâmis e os antropólogos"); por Napoleon A. Chagnon; Simon & Schuster; 544 páginas; R$ 87,50 sob encomenda na Livraria Cultura .