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domingo 22 2013

Pivô da crise síria, armas químicas causaram maior número de vítimas na história

Por Luciana Alvarez - iG
    
Envenenamentos em massa estão em conflitos desde a Antiguidade; agente usado na Síria está entre os mais letais.
   
O uso de armas químicas na guerra civil da Síria é o pivô da atual crise diplomática que envolve o país do regime Bashar al-Assad , mas a ideia de derrotar o inimigo por meio de alguma forma de envenamento em massa está presente nos conflitos desde a Antiguidade.
   
Documentos mostram que em 2 mil a.C. era comum que militares na Índia empregassem "cortinas de fumaça", uma espécie de incêndio que liberava vapores altamente tóxicos. Na Grécia Antiga, os espartanos cercavam cidades inimigas com madeira, enxofre e piche, uma combinação que criava gases sufocantes.
   
Vietnamitas correm após ataque dos EUA com uso de napalm durante a Guerra do Vietnã (8/6/1972).
Mais tarde, para expandir seu império, os romanos levavam em seus Exércitos especialistas em envenenamento, que contaminavam as fontes de água potável da população.
   
Na atualidade, a definição mais aceita caracteriza as armas químicas como quaisquer substâncias tóxicas capazes de matar, ferir, incapacitar ou provocar irritação dos sentidos quando lançadas em dispositivos como morteiros, bombas, foguetes ou mísseis.
   
Por serem relativamente fáceis de fabricar e, mesmo pequenas quantidades, terem um grande potencial devastador, as armas químicas são as armas de destruição em massa que mais provocaram vítimas na história, de acordo com o grupo de estudos Nuclear Threat Inintciative (NTI). Os materiais necessários para a produção do gás neurológico sarin , por exemplo, são conhecidos há mais de 50 anos e o processo pode ser feito por laboratórios de moderada tecnologia.
   
A aplicação das armas químicas modernas aconteceu pela primeira vez de forma marcante durante a Primeira Guerra (1914–1918). Os Exércitos alemão, francês e britânico usaram gases venenosos (cloro e mostarda) para aniquilar soldados inimigos. Estima-se que os agentes químicos tenham matado 100 mil e ferido mais de 1 milhão durante o conflito.
   
Desde então, há inúmeros relatos do emprego de armas químicas, embora em menor escala. Em 1919, a antiga União Soviética (1922-1990) usou gás mostarda contra um levante de povos muçulmanos na Ásia Central. Dois anos mais tarde, a Espanha também usou o mesmo gás mostarda para conter uma revolta no Marrocos.
   
Na década de 1930, o Japão fez amplo uso suas armas químicas na invasão da Manchúria e na posterior ocupação de áreas chinesas. Na mesma época, sob o comando de Mussolini, a Itália lançou gases tóxicos para conter a população na sua colônia na Líbia e para invadir a Etiópia.
   
Foi durante a Segunda Guerra (1939–1945) que apareceram os primeiros agentes neurológicos, desenvolvidos pelos nazistas. Embora os alemães não os tenham usado nos campos de batalha, eles foram bastante empregados para matar judeus nos campos de concentração.
   
Na Guerra do Vietnã (1961-1967), os EUA pulverizaram o chamado agente laranja, uma mistura de dois herbicidas, sobre as selvas do Vietnã do Sul. Além de destruir plantações e a floresta densa onde guerrilheiros se escondiam, a substância provocou na população síndromes neurológicas, câncer e malformações congênitas.
   
Há também provas de que Sadam Hussein empregou armas químicas na guerra entre Irã e Iraque (1980-1988), embora ele acusasse o Irã de ter feito o mesmo. Em 1991, o ditador iraquiano voltou a usar os agentes letais contra aldeias curdas em Halabja, norte do país. Outro episódio marcante foi o ataque terrorista perpetrado pela seita radical Verdade Suprema em 1995 com sarin no metrô de Tóquio, Japão. Apesar do número relativamente baixo de mortes – 12 pessoas – o atentado mostrou o risco que essas substâncias representam nas mãos de pequenos grupos, não ligados a nenhum Estado.
   
Proteção internacional
   
Por serem consideradas armas de destruição em massa, o uso de armas químicas é banido pela lei internacional. Na polêmica atual, os EUA e seus aliados dizem haver evidências de que o regime de Assad fez uso de armas químicas , enquanto a Rússia alega que ataques desse tipo foram realizados pelos rebeldes que lutam contra o governo há mais de dois anos.
   
O governo sírio admitiu possuir armas químicas, mas sempre negou que as tivesse empregado na guerra civil. Nesta sexta-feira, representantes de Assad entregaram à Organização para a Proibição de Armas Químicas um relatório inicial sobre pesquisas e localização dos agentes químicos que possuem.
    
Como parte de um acordo estabelecido entre EUA e Rússia para evitar um ataque militar liderado por Washington contra a Síria, o regime Assad deverá aderir em outubro a Convenção de Armas Químicas , que obriga seus participantes a destruírem seus arsenais e não mais fabricarem agentes químicos. Os países que não fazem parte do tratado são Coreia do Norte, Egito, Angola, Sudão do Sul, Israel e Mianmar, sendo que os dois últimos assinaram, mas não tiveram a decisão ratificada por seus parlamentos.
    
Apesar de serem signatários da convenção, EUA e Rússia, que produziram grandes quantidades de agentes químicos letais durante a Guerra Fria (1945-1990), ainda não conseguiram destruir completamente seus arsenais. O estoque americano chegou a 31 mil toneladas e o russo, a 44 mil. O prazo para dar fim a todo o material era abril de 2012 já foi perdido; a nova estimativa é que a destruição termine em 2023.
    
Como destruir as armas químicas?
   
A extensão do prazo para americanos e russos ilustra como é difícil – e caro – destruir as armas químicas . Nos EUA, o processo custou em média aos cofres públicos US$ 1 bilhão a cada mil toneladas. Pelo acordo firmado entre EUA e Rússia, os inspetores de armas devem entrar na Síria em novembro para começar o processo de destruição do arsenal e do equipamento de produção. Tudo deverá ser eliminado até meados de 2014.
   
Mas tecnologias envolvidas para destruir armas químicas exigem construções sofisticadas, podem levar vários anos para serem erguidas. Os agente químicos são vulneráveis demais para serem transportados em segurança para locais distantes, especialmente em um país que se encontra em guerra civil. 
   
Segundo o programa de destruição de armas químicas do exército americano, o processo tem três etapas básicas:
   
1. Quebrar a arma, ou seja, tirar a munição química dos mísseis, foguetes, morteiros, etc.
   
2. Drenar os agentes químicos, um processo que deve ser feito por robôs.
   
3. Após isolados, os agentes químicos devem ser destruídos. Isso pode ser feito basicamente por dois métodos: incineração ou neutralização (que consiste em misturar outros agentes químicos que provoquem uma reação de acabar com a toxicidade da substância original). Em ambos os casos, envolve-se a construção de usinas com capacidade para suportar altas temperaturas e processar os efluentes tóxicos que se formam no processo, como gases que precisam passar por vários filtros.
    
Quais são os tipos de armas químicas mais comuns?
   
As armas químicas costumam ser divididas em quatro categorias, de acordo com a forma que agem no corpo humano.
   
Agentes neurológicos - São o tipo mais letal, pois paralisam o sistema nervoso central, impedindo a respiração e os batimentos cardíacos quando inalados ou absorvidos pela pele. São agentes neurológicos o tabun , o VX e o sarin .
   
Agentes vesiculantes - Essas substâncias provocam queimaduras severas e levam à formação de bolhas nos tecidos humanos, podendo causar a morte, sobretudo se inalados. O gás mostarda é um agente vesiculante.
   
Agentes asfixiantes - Esses agentes causam lesões sérias no pulmão, o que dificulta a respiração, podendo provocar paradas. São eles o gás cloro , o fosfogênio e a cloropicrina.
   
Agentes sanguíneos - Interferem na capacidade do sangue de transferir oxigênio para os tecidos. Entre eles estão o gás cianídrico , o cloreto de cianogênio e o brometo de cianogêneio.
    

sábado 21 2013

Jatene e Zenaldo terão que sair da propaganda

O governador Simão Jatene e o prefeito Zenaldo Coutinho, ambos do PSDB, receberam no início deste mês recomendação do Ministério Público do Estado do Pará, por meio do promotor de Justiça Domingos Sávio Alves de Campos 4º promotor de Justiça de Direitos constitucionais, Patrimônio público e Morada Administrativa advertindo para a retirada de imagem pessoal nas propagandas oficiais veiculadas pelo Estado e o município nos meios televisivos. Caso não atendam à recomendação, Jatene e Zenaldo poderão responder judicialmente pela prática de improbidade administrativa.

As recomendações pedem que sejam tomadas medidas para que as propagandas oficiais dogoverno do estado e da prefeitura veiculadas na televisão não mais desrespeitem os limites impostos nas Constituições federal e estadual e para isso, seja retirada a imagem pessoal dos gestores das propagandas oficiais veiculadas na televisão bem como qualquer simbologia que remeta a sua pessoa, partido, etc. O prazo será de até 15 dias úteis, no caso do governo estadual, e de 30 dias úteis para o governo municipal.
    
O promotor já instaurou um inquérito civil público para apurar as irregularidades na propaganda do Governo do Estado do Pará. Domingos Sávio alerta que a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos “deverão estar vinculadas ao caráter educativo, informativo ou de orientação social, não podendo, então, constar nomes, símbolos ou imagens que idealizem a promoção pessoal de autoridades e servidores públicos”.
    
O promotor alerta que “este preceito não tem sido respeitado nas propagandas do Governo do Estado veiculadas na televisão” e que os agentes públicos devem observar e respeitar “aos princípios elencados no artigo 37 da nossa Constituição Federal, dentre eles o princípio da Legalidade, impessoalidade e Moralidade” quem, segundo o MP, as propagandas do Governo do Estado na TV afrontam, podendo configurar “lesão ao erário Estadual por se utilizar de dinheiro público para promoção pessoal”.
    
No caso de Zenaldo Coutinho, que foi alvo de denúncia da vereadora Marinor Brito (PSOL) por prática de propaganda ilícita, o promotor reconhece que o tucano não vem aparecendo na propaganda televisiva nas últimas semanas, mas a recomendação foi emitida nos mesmos termos do governador e é válida para que a prática não volte a ocorrer como em meses anteriores. (Diário do Pará).
    
NOTA DO FOLHA - E aqui em Tucuruí, como é que fica? É só ligar a TV e ver a propaganda pessoal escancarada do prefeito, isso sem contar com todos os prédios e logradouros públicos pintados com as cores da campanha eleitoral do alcaide.
      
Deve ter uma cabeça de burro enterrada bem no centro da cidade, provavelmente na Praça do Rotary, pois no Pará tem Lei para punir prefeito de toda a cidade do Estado e até para o Governador, menos em Tucuruí onde a impunidade, o abuso e o desrespeito à Lei é regra, e onde para "trabalhar" na Prefeitura não precisa de concurso público, basta ser amigo e cumpincha do prefeito ou dos vereadores.
     
POBRE TUCURUÍ, QUEM PODERÁ NOS DEFENDER?????????
       

sexta-feira 20 2013

Era um campo de concentração, diz 1º jornalista a ver o ‘holocausto brasileiro’


Reportagem de Hiram Firmino, em 1979, impulsionou fim dos horrores no manicômio de Barbacena, em Minas. 
    
  
“Crianças pelo chão, entre moscas. Nenhum brinquedo, um psiquiatra qualquer. Pessoas aleijadas, arrastando-se pelo chão, feito bicho. Agrupadas para não serem pisoteadas, na hora da comida. Esperando a maca, a liberdade somente possível através da morte. Um asilo medieval, de pedra e barras de ferro. Úmido, frio e indesejável. Celas e eletrochoques, e todas as torturas médicas. Nenhuma assistência ou calor humano. Como em um campo de concentração”. 
     
Foi em 1979, um ano após a revogação do AI-5 (Ato Institucional número 5), que um jornalista conseguiu entrar pela primeira vez no Hospital Colônia, o manicômio de Barbacena, em Minas Gerais. A cena acima foi descrita à época pelo então jornalista do jornal "O Estado de Minas" Hiram Firmino. 
    
Holocausto brasileiro: 60 mil morreram em manicômio de Minas Gerais 
 
    
Apesar da surpresa do repórter, a situação fazia parte do cotidiano do Colônia havia bastante tempo. O manicômio foi inaugurado em 1903. A barbárie começou a partir de 1930, quando pessoas passaram a ser internadas sem ter sintomas de loucura ou insanidade. Delegados, coronéis e pessoas influentes na sociedade daquele tempo usavam o poder para mandar desafetos, gays, negros para serem internados no hospício. 
    
Hiram Firmino lembra de um garçom que costumava atendê-lo em um restaurante da região e que foi mandado para o Colônia por causa de uma mudança de comportamento. “Ele parecia tonto, meio bêbado um dia. Levaram ele. Ficou a vida toda lá. Era uma pessoa que eu conhecia. Aquele lugar foi construído por uma questão política. A maioria das pessoas morria no Colônia. Era um campo de concentração”, afirma em entrevista ao iG 
    
Ao chegarem ao manicômio, os internados tinham uma rotina desumana. Dormiam juntos em salas grandes sem cama. Todos tinham de se deitar sobre o chão do cômodo, que era coberto apenas por capim. Acordavam por volta das 5h da manhã e eram enviados para os pátios, cobertos apenas com trapos, onde suportavam o calor ou o frio de Barbacena até 19h. Todos os dias. 
     
“Fiquei chocado (quando entrei no Colônia), até com vergonha. Escrevia tudo o que podia ver. Estava trabalhando diante do horror. As pessoas eram tratadas igual bichos. (Os internos) Eram lavados com vassoura, esfregavam as costas deles enquanto jogavam água de mangueira. Xixi e cocô para tudo quanto é lado. Eram pessoas normais que foram pegas bêbadas, pessoas esquecidas pela sociedade”, lembra. 
    
De acordo com o livro “Holocausto Brasileiro” , lançado em junho deste ano pela jornalista Daniela Arbex, o genocídio deixou 60 mil mortos. Isso porque, além das condições insalubres, o hospício chegou a ter 5 mil pessoas ao mesmo tempo, enquanto a capacidade original era para 200 pacientes. Nesses períodos de maior lotação, em média 16 pessoas morriam todos os dias. 
    
Reforma psiquiátrica 
    
Ainda que aquela rotina tenha ficado conhecida da pela sociedade e autoridades após denúncia da revista O Cruzeiro, em 1961, as mortes dos internos continuavam sem que ninguém fizesse algo de fato. A situação começou a mudar quando Firmino entrou no hospício e publicou uma série de reportagens sobre os manicômios de Minas Gerais. Por conta da repressão, ele deixou a reportagem sobre o hospital de Barbacena por último. 
    
“Um jornal (O Estado de Minas) conservador numa sociedade conservadora. Eu tive a sorte de entrar lá. Na época Roberto Drummond me orientou: ‘Só conta o que você viu’. Eu fiz uma narrativa e usei a tática de começar a série com textos mais fraquinhos. Sobre os outros hospícios. Cada dia a reportagem ia ficando mais pesada. Só descrevia, sem denunciar. Então houve uma espécie de permissão da direção do jornal. Deixei que o leitor imaginasse. Aí não tinha mais como interromper, o jornal começou a vender muito. Acabei ganhando o Prêmio Esso de Jornalismo”, conta. 
    
A denúncia chamou atenção de profissionais da época, como o psiquiatra italiano Franco Basaglia que liderava um movimento antimanicomial em vários países do mundo. “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em nenhum lugar do mundo presenciei uma tragédia como essa”, disse na ocasião ao visitar o Colônia. Foi Basaglia que pediu para Firmino escrever um livro sobre o caso. As reportagens foram reunidas então na obra intitulada “Nos Porões da Loucura”. 
    
O caso ganhou repercussão e cinco anos depois, segundo Firmino, boa parte dos internos tinha sido reintegrada a outros manicômios de Minas Gerais. Apesar disso, ninguém nunca foi punido pelas mortes. Na opinião do jornalista, muitos dos funcionários não tinham a exata proporção do que estavam fazendo com aquelas pessoas. “Tem até um filme, chamado Hannah Arendt, que fala da banalidade do mal. As pessoas não têm consciência do que elas fazem. Se você pegasse aquela atendente que esfregava vassoura nas costas dos internos, ele diria que estava fazendo aquilo com o maior carinho. Eles (funcionários) estavam cumprindo ordem. As pessoas fazem isso no automático, sem pensar.” Era um campo de concentração, diz 1º jornalista a ver o ‘holocausto brasileiro’ 
   
Reportagem de Hiram Firmino, em 1979, impulsionou fim dos horrores no manicômio de Barbacena, em Minas 
   
“Crianças pelo chão, entre moscas. Nenhum brinquedo, um psiquiatra qualquer. Pessoas aleijadas, arrastando-se pelo chão, feito bicho. Agrupadas para não serem pisoteadas, na hora da comida. Esperando a maca, a liberdade somente possível através da morte. Um asilo medieval, de pedra e barras de ferro. Úmido, frio e indesejável. Celas e eletrochoques, e todas as torturas médicas. Nenhuma assistência ou calor humano. Como em um campo de concentração”. 
   
Foi em 1979, um ano após a revogação do AI-5 (Ato Institucional número 5), que um jornalista conseguiu entrar pela primeira vez no Hospital Colônia, o manicômio de Barbacena, em Minas Gerais. A cena acima foi descrita à época pelo então jornalista do jornal "O Estado de Minas" Hiram Firmino. 
    
Holocausto brasileiro: 60 mil morreram em manicômio de Minas Gerais 
    
Apesar da surpresa do repórter, a situação fazia parte do cotidiano do Colônia havia bastante tempo. O manicômio foi inaugurado em 1903. A barbárie começou a partir de 1930, quando pessoas passaram a ser internadas sem ter sintomas de loucura ou insanidade. Delegados, coronéis e pessoas influentes na sociedade daquele tempo usavam o poder para mandar desafetos, gays, negros para serem internados no hospício. 
    
Hiram Firmino lembra de um garçom que costumava atendê-lo em um restaurante da região e que foi mandado para o Colônia por causa de uma mudança de comportamento. “Ele parecia tonto, meio bêbado um dia. Levaram ele. Ficou a vida toda lá. Era uma pessoa que eu conhecia. Aquele lugar foi construído por uma questão política. A maioria das pessoas morria no Colônia. Era um campo de concentração”, afirma em entrevista ao iG 
   
Ao chegarem ao manicômio, os internados tinham uma rotina desumana. Dormiam juntos em salas grandes sem cama. Todos tinham de se deitar sobre o chão do cômodo, que era coberto apenas por capim. Acordavam por volta das 5h da manhã e eram enviados para os pátios, cobertos apenas com trapos, onde suportavam o calor ou o frio de Barbacena até 19h. Todos os dias. 
    
“Fiquei chocado (quando entrei no Colônia), até com vergonha. Escrevia tudo o que podia ver. Estava trabalhando diante do horror. As pessoas eram tratadas igual bichos. (Os internos) Eram lavados com vassoura, esfregavam as costas deles enquanto jogavam água de mangueira. Xixi e cocô para tudo quanto é lado. Eram pessoas normais que foram pegas bêbadas, pessoas esquecidas pela sociedade”, lembra. 
   
De acordo com o livro “Holocausto Brasileiro” , lançado em junho deste ano pela jornalista Daniela Arbex, o genocídio deixou 60 mil mortos. Isso porque, além das condições insalubres, o hospício chegou a ter 5 mil pessoas ao mesmo tempo, enquanto a capacidade original era para 200 pacientes. Nesses períodos de maior lotação, em média 16 pessoas morriam todos os dias. 
    
Reforma psiquiátrica 
   
Ainda que aquela rotina tenha ficado conhecida da pela sociedade e autoridades após denúncia da revista O Cruzeiro, em 1961, as mortes dos internos continuavam sem que ninguém fizesse algo de fato. A situação começou a mudar quando Firmino entrou no hospício e publicou uma série de reportagens sobre os manicômios de Minas Gerais. Por conta da repressão, ele deixou a reportagem sobre o hospital de Barbacena por último. 
   
“Um jornal (O Estado de Minas) conservador numa sociedade conservadora. Eu tive a sorte de entrar lá. Na época Roberto Drummond me orientou: ‘Só conta o que você viu’. Eu fiz uma narrativa e usei a tática de começar a série com textos mais fraquinhos. Sobre os outros hospícios. Cada dia a reportagem ia ficando mais pesada. Só descrevia, sem denunciar. Então houve uma espécie de permissão da direção do jornal. Deixei que o leitor imaginasse. Aí não tinha mais como interromper, o jornal começou a vender muito. Acabei ganhando o Prêmio Esso de Jornalismo”, conta. 
    
A denúncia chamou atenção de profissionais da época, como o psiquiatra italiano Franco Basaglia que liderava um movimento antimanicomial em vários países do mundo. “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em nenhum lugar do mundo presenciei uma tragédia como essa”, disse na ocasião ao visitar o Colônia. Foi Basaglia que pediu para Firmino escrever um livro sobre o caso. As reportagens foram reunidas então na obra intitulada “Nos Porões da Loucura”. 
   
O caso ganhou repercussão e cinco anos depois, segundo Firmino, boa parte dos internos tinha sido reintegrada a outros manicômios de Minas Gerais. Apesar disso, ninguém nunca foi punido pelas mortes. Na opinião do jornalista, muitos dos funcionários não tinham a exata proporção do que estavam fazendo com aquelas pessoas. “Tem até um filme, chamado Hannah Arendt, que fala da banalidade do mal. As pessoas não têm consciência do que elas fazem. Se você pegasse aquela atendente que esfregava vassoura nas costas dos internos, ele diria que estava fazendo aquilo com o maior carinho. Eles (funcionários) estavam cumprindo ordem. As pessoas fazem isso no automático, sem pensar.”

     

Comportamento - A construção da a felicidade

     
Não vemos as coisas como elas são - vemos as coisas como nós somos. Alcançar a felicidade requer a superação dessas limitações sem transgredir os próprios valores e posicionamentos.
  
De onde vem essa cegueira eterna que nos faz lidar com o novo usando os velhos padrões? Estamos reduzindo as possibilidades de nossa vida e limitando o potencial de nossa obra pela dificuldade de nos abrirmos verdadeiramente para o horizonte mais amplo do novo. Os padrões que formatam nosso olhar sobre a existência também criam uma cortina de fumaça que nos ilude e confunde nossas percepções.
   
Albert Einstein nos ensina que “não é possível resolver os problemas no mesmo nível de consciência que os criou”. É preciso transcender o estado do pensamento e da percepção que gerou determinada situação ou relação e funcionar em um estado mais amplo e, portanto, mais cheio de possibilidades.
   
A forma como enxergamos a realidade é que a modela. Vivemos dentro dos limites de nosso olhar, de nossa percepção. Cada um de nós modelou uma lente, uma forma de ver a realidade, ou o que a ciência chama de paradigma. Essa formatação não é a verdade – é apenas um modelo pessoal da verdade. Sendo assim, é preciso que estejamos atentos à possibilidade de ver outras formas, outros modelos de mundo.
   
Estado tão ambicionado quanto fugidio, a felicidade é assunto de permanente interesse em qualquer latitude. Ao lado da espiritualidade, das relações interpessoais saudáveis, da ecologia e da cultura, ela figura entre os temas de destaque do VII Congresso Transpessoal Internacional, promovido pela Associação Luso-Brasileira de Psicologia Transpessoal (Alubrat) em Águas de Lindoia (SP) entre 4 e 7 de setembro. Uma das palestrantes do evento, a educadora e escritora Dulce Magalhães, mostra a seguir que chegar à felicidade envolve necessariamente uma grande transformação interior.
   
Não há perda, desafio, problema ou circunstância com a qual não possamos lidar. Tudo pode ser integrado em novos níveis de consciência e, dessa forma, somos capazes de transcender o desafio sem transgredir nossos valores e posicionamentos. Aliás, só estaremos resolvendo verdadeiramente uma questão se estivermos em alinhamento com nossa própria consciência e guiados por nossos valores mais caros.
   
Há muitas outras formas de perceber a mesma realidade, além daquela que estamos usando. E nenhuma delas será mais vantajosa do que a alternativa da felicidade. Estar em perfeita integração consigo mesmo, em sintonia com valores coletivos de fraternidade, liberdade e igualdade, sermos inspirados por ícones que buscam elevar a consciência individual e planetária. A felicidade é a criação de um cosmos dentro do caos.
   
A separação entre a causa e o efeito, entre indivíduos ou entre perspectivas é ilusória. Tudo está interligado e funcionando em uma grande e harmoniosa intenção correta. Por vezes somos incapazes de percebê-la, mas o tempo, o grande curador de todas as feridas, sempre revela que nada está sem sentido e nenhuma ação é desconectada da fonte.
   
É preciso transpirar uma nova realidade para poder vivenciá-la. Enquanto não nos posicionarmos e não fizermos a escolha, viveremos no mundo que não escolhemos nem desejamos. Este é um momento de con-vocação, de re-união, de re-construção. O chamado já está sendo feito; que possamos atendê-lo e nos seja dado o privilégio de nos tornarmos a mudança que queremos ver no mundo, como nos ensinou Mahatma Gandhi.
   
Tempo de crisálida
   
É preciso deixar morrer. É preciso aprender a liberar o que já não é mais. Há partes de nós que resistem, apesar de obsoletas. Que certezas carregamos sem questionar? Onde estão nossas dificuldades de aceitação que não nos permitem sair do sofrimento?
   
Há tempo para tudo na vida. Mas é preciso deixar morrer a lagarta. A semente do que fomos e as ilusões nas quais construímos nossa visão de mundo foram uma etapa necessária da existência, mas chega o momento da transformação. Aquilo que era bom não representa mais o futuro.
   
A segurança não pode ser medida pela convicção, mas pela habilidade de duvidar e, mesmo assim, ser capaz de seguir em frente. A lagarta é a promessa do que podemos nos tornar; contudo, não é a experiência completa nem um fim em si mesma. É uma etapa inicial, acertadamente percorrida. A infância da vida, o desabrochar da inocência, a experimentação da realidade.
   
Então há o momento de deixar a lagarta morrer. Esse é o tempo da crisálida. Quando saímos das certezas aprendidas para as verdades elementares. Introjetamos a experiência e repassamos a vida pelo crivo caloroso da essência. Existe alegria, júbilo nessa vivência, pois não há nada melhor do que renascer. Nascer pode não ser uma escolha, mas renascer é fruto da consciência que acorda e deixa morrer aquilo que não vive mais.
   
Claro que, como qualquer das passagens da existência, tornar-se crisálida não é uma experiência isenta de tumulto. Há estertores da antiga lagarta que resiste em desaparecer, sem compreender que de fato se transforma em algo maior e melhor. A crisálida contém a lagarta, mas vai muito além dela.Essa interiorização a que a crisálida convida é um estado reflexivo, de harmonização entre o ser e o fazer, entre o desejo e o destino. É a edificação da consciência em estado de maturidade. É, ao mesmo tempo, um estado de insensatez, de loucura, de fazer coisas inesperadas, fora do senso comum. É preciso muita maturidade para enlouquecer de forma sensata.
   
Loucura mesmo é permanecer lagarta. Arrastar- se por aí, sem perceber a magnificência da vida. Acordar e dormir sem perceber que o tempo entre esses dois momentos é o mais significativo. Não será em nenhum outro dia, nenhum outro momento e nenhum outro lugar. Especialmente, não precisamos ser outra pessoa para nos transformarmos. O ser que somos já basta. É preciso lembrar que a lagarta é semente e que a experiência acumulada é a matéria-prima na qual podemos construir o casulo que vai abrigar a crisálida.
    
É tempo de se voltar para o interior, a essência. Um momento de recolhimento das distrações do mundo. O sabático do cotidiano. Na aparência, aos olhos apenas focados no exterior, a crisálida é um casulo de morte. É o fim da lagarta e nada mais se vê. Não há beleza nem movimento, nenhum tipo de ação. É o fim de um ciclo, mas não se pode adivinhar o que virá daí. É preciso aprender a confiar no fluxo, acreditar no sábio processo da natureza, que fará revelar aquilo que pode ser.
   
Muitos obser vadores desavisados vão condenar a crisálida. Vão apontar suas deficiências, suas perdas, suas dificuldades, sua fragilidade. Contudo, não se pode confiar na impressão das outras lagartas. Cada uma delas também haverá de experimentar o mesmo processo, cada uma a seu modo, porém lagartas não estão prontas para compreender a crisálida.
   
O que é uma aparente deficiência pode ser, de fato, um redimensionamento da experiência de existir. O que é percebido como perda pode, na verdade, ser um desapego libertador. As dificuldades nada mais são do que a consciência em pleno exercício, percebendo mais e, portanto, experimentando coisas e situações novas. É do falsamente frágil que surge a força, o vigor, a vida.
   
Por falta de experimentação, o vocabulário das lagartas condena a experiência de crisálida. A resistência se organiza, a crítica se intensifica, mas o processo não pode mais ser interrompido. Uma vez que a lagarta comece a se transformar, já não há mais volta. E é desse recolhimento, dessa autoimolação do passado que surgirão as condições para o desabrochar de uma nova experiência, mais ampla, mais rica, além de qualquer aspiração.
   
Da antiga lagarta se tem a experiência do corpo. Dos desafios vividos nascem as antenas da percepção. Da entrega surgem o veludo e as cores. O ser se apresenta além das restrições e, de par em par, desdobra suas asas e se permite voar para esse lugar mítico chamado felicidade. É para lá que estamos todos fadados a seguir.
   
Info: www.alubrat.org.br
   
* Dulce Magalhães,
   
Ph.D. em filosofia pela Universidade Colúmbia, mestre em comunicação empresarial pela Universidade de Londres e membro do conselho gestor da Unipaz SC, foi eleita uma das 100 Lideranças da Paz no mundo pela Geneve for Peace Foundation.
   

quinta-feira 19 2013

Existe alguma cor que não conseguimos ver?

          
Sim. Quer dizer: existem cores que, apesar de detectadas pelo nosso cérebro, não são traduzidas pelo nosso sistema óptico, e acabamos enxergando-as como branco. As cores são formadas na nossa mente a partir de três luzes primárias: vermelho, verde e azul. 
     
As misturas entre essas luzes formam todas as outras cores que conseguimos ver, mas algumas misturas não podem ser traduzidas pelos olhos humanos - embora outros olhos, como os de alguns insetos, possam vê-las. 
     
As cores "invisíveis" são as misturas de luzes complementares, como o azul e o laranja, o vermelho e o verde, o púrpura e o amarelo. "Não existe uma cor amarelo-azulada ou um vermelho-esverdeado", diz o físico Oswaldo Cruz Martins, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. 
    
Além disso, existem radiações de luz que ficam fora da faixa a que o olho humano se adaptou, que vai do vermelho ao violeta, as cores do arco-íris. As radiações que ficam abaixo ou acima dessa faixa só podem ser vistas por pouquíssimas pessoas, além de alguns animais e insetos. 
    
Por fim, há uma questão lingüística: não estamos acostumados a alguns nuances de cores e, por isso, não temos palavras para descrevê-las - os esquimós, por exemplo, descrevem dezenas de nuances de branco da neve, mas nós não.